quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ainda o 13 de Maio: Mesma data, novo significado

Foi-se o tempo em que o 13 de maio era comemorado com festa e Isabel, a regente que assinou a abolição, reverenciada como “A Redentora”. Foi nos idos dos anos 70 que Abdias do Nascimento e outros ativistas do movimento negro propuseram o 20 de novembro, morte de Zumbi dos Palmares, para ser a data máxima dos afrodescendentes brasileiros. Desde então, o 13 de maio perdeu importância e foi quase esquecido.

Boas razões não faltaram, já que, libertos, os negros ficaram ao “Deus-dará”. Levaram um bom pé nas nádegas – ou bunda, em bom Yorubá. Correram, então, para os lugares desabitados – e indesejados – onde construíram suas malocas de pau a pique e sapê, nome e técnica aprendidas com os índios. Inventaram, assim, a favela, substituta da senzala na precariedade da moradia e no pânico da classe branca dominante. A lei 3.353, chamada Áurea por ter sido sancionada com uma caneta de ouro, criou a miséria. Por este e por outros fortes motivos, a nossa abolição, que foi a última das Américas, é considerada incompleta.

Mas não se pode enterrar o passado já que ele, como os pneus velhos, tende a voltar à tona um dia. Sepultar o 13 de maio não mudou a vida de ninguém para melhor, mas também não se podia voltar a celebrar a abolição legal como se fazia antes. O jeito foi mudar a forma de lidar com a data.

Ideia acertada. Mas como dar novo significado a um fato histórico? Simples e complicado ao mesmo tempo: mudando o enfoque. Hoje, os escravos são vistos como o que foram: os primeiros trabalhadores do Brasil, já que o país foi construído com mão de obra africana. Então, nada mais justo que render homenagem aos escravizados. O 13 de maio deixou de ser um dia de festa para se tornar uma data de reflexão. E refletir, revisitar, reavaliar o passado é sempre um exercício saudável para evitar que se cometa os mesmos erros e se busque soluções para os problemas pendentes.

Então, todo ano, no dia 13 de maio, abracemos as ações compensatórias: se nada foi feito pelos escravizados, que se faça algo, agora, por seus descendentes. Vamos discutir, debater, defender as políticas de cotas, o combate ao racismo, o cuidado específico de saúde para a população negra, as ações afirmativas em geral. E não deixemos que brasileiro algum – branco, negro, indígena, puro ou mestiço – esqueça que, sem os africanos, o Brasil como o conhecemos não existiria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário